
Em gaiata nas enormes férias de verão passadas na serra algarvia, a minha tia avó entretinha-me com histórias. Algumas eram inventadas por ela. A “Maria dos patos”, já não me recordo bem, mas tenho a lembrança de ser uma das minhas favoritas. Outras, percebo em adulta, que eram versões das tradicionais que ela revestia.
E assim nasceu o meu interesse pelas histórias, narrativas, metáforas e enredos que contamos internamente e contamos aos outros. Utilizo-as em consulta para ilustrar, concretizar “coisas”, como metáforas em psicoterapia.
Estes enredos, argumentos são por vezes histórias sem fim. Às quais se perdeu por vezes o início e se mantém inalteráveis e validadas ao longo da vida.
Daí que quando estava no primeiro ano do curso de medicina dentária (na tentativa de ser a terceira geração numa tradição familiar) e uma colega me falou do curso de psicologia e no que lá se fazia, não tive muitas dúvidas em mudar. Ah! Pois, psicologia não foi a minha primeira opção!
Fiz a minha formação académica em Psicologia Clínica. Nos anos 90, iniciei um percurso de exploração e compreensão do meu mundo interno com uma grupanálise pessoal, nesse ano também surgiu o interesse pelas atividades ligadas à natureza e às culturas do oriente, que se mantém e fazem parte do meu auto-cuidado.
Esta jornada de desenvolvimento pessoal vai decorrendo ao longo do tempo, na medida das necessidades pessoais, dos interesses teóricos, científicos e emocionais a explorar.
A experiência profissional é um processo em construção, de vivencias e aprendizagens diferenciadas em diferentes contextos. Começou com a intervenção psicoterapêutica a reclusos em meio prisional. Uma experiência única no contacto direto com as temáticas deste meio e dos seus intervenientes. Outro contexto é um hospital psiquiátrico de referência na cidade de Lisboa, os seus diversos serviços clínicos (internamento, comunidade, consulta externa, intervenção psicoterapêutica mediada com cetamina). Na área corporativa, a prestação de cuidados de saúde mental nos serviços clínicos numa grande empresa de referência. Participar num projeto europeu que visava estabelecer diálogos restaurativos entre vítimas de crimes e ex-reclusos. Até à atividade clínica em consultório privado.
A vivência destas experiências tão diversificadas tem possibilitado ao longo deste percurso, o desenvolvimento de um reportório pautado por um tradutor interno que me permite com uma grande satisfação pessoal, facilitar os processos de empoderamento pessoal e relacional das pessoas que se disponibilizam para realizarem esta jornada comigo.
Acredito que através do investimento no conhecimento pessoal dos diversos “Eus”, das nossas necessidades, dos padrões internos, das nossas preferências, dos nossos dragões e dos nossos dotes naturais todos podemos florescer.
O propósito é encontrar um equilíbrio dinâmico entre as nossas partes internas do passado e do presente, criando conexões entre elas, largando umas, segurando outras. Toda esta dinâmica na relação com os outros, de uma forma cada vez mais ecológica e segura, incluindo com o meio ambiente.
Para finalizar, tenho a convicção de que de todas as minhas qualificações, a mais significativa é a de ter um cartão de membro da raça humana (Lori Gottlieb).
Enfim, aceitar que esta Jornada é um Caminho que se vai fazendo por grutas, montanhas, vales, praias, tempestades, neve, calor, com uma bagagem repleta de emoções, sentimentos, memórias, pensamentos, fantasias e desejos, sempre em relação (e ralação!) com os outros.

