Regulação emocional

Todos sentimos e experienciamos emoções. Todos os dias, em diversas ocasiões. Fazem parte da nossa vida desde que nos levantamos até que nos deitamos.

Habitualmente há uma tendência para consideramos que são “negativas” ou “positivas”, exageradas ou fora do nosso controle. Algumas preferíamos eliminar por serem tão desagradáveis de se sentir: a tristeza, o medo, a ansiedade, a raiva. Outras gostaríamos que durassem para sempre, como por exemplo a alegria.

Paul Ekman (1999) baseando-se na análise das expressões faciais e das emoções apresentou uma lista de seis emoções básicas, primárias que são inatas e universais (Damásio, A. 1998). Estão presentes em todas as culturas e estão associadas a necessidades fisiológicas e de segurança

Já pensou que elas podem ter uma função? Que nos podem transmitir um determinado tipo de informação?!

1 – A Alegria está associada a uma experiência agradável e desejável.

2 – A Tristeza está associada à perda de uma pessoa, de um objecto, de um plano.

3 – O Medo e a Ansiedade alerta para o perigo, uma ameaça ou um desafio.         

4 – A Raiva/Ira informa sobre a existência de uma ameaça que pode ser física,  ao amor-próprio ou à dignidade. Está associada ao facto de sentirmos que somos tratados de forma injusta, insultados ou humilhados.      

5 – A Surpresa surge face a uma situação inesperada, por exemplo uma festa surpresa, uma notícia com a qual não se estava a contar. A função é facilitar o processo de ajuste do sistema nervoso a uma mudança imprevista no meio ambiente.

6 – A Repulsa/nojo está associada a diferentes estímulos que não nos agradam, como por exemplo um determinado tipo de comida ou uma casa de banho pública com pouca higiene.

Nos filmes “Divertida-Mente” podem-se observar estas emoções básicas em acção. E no filme “Turning red: Estratanhamente vermelho” a narrativa centra-se nas mudanças de uma jovem adolescente, que quer ao nível dos interesses, quer ao nível do corpo, sempre que fica muito agitada transforma-se num panda vermelho.

Do universo das emoções, destacam-se ainda as emoções de Culpa e Vergonha por fazerem parte do sistema moral e social.

 A Culpa está associada a uma situação de arrependimento, em que sentimos que fizemos alguma coisa que prejudica o outro.

A Vergonha é ativada quando nos expomos socialmente em situações embaraçosas. A sua função é de proteção da rejeição social (grupo, pares, família, etc).

Face ao exposto, provavelmente concorda que são informações demasiado importantes para não se ter acesso a elas!

E a sua manifestação corporal, física? O riso, as mãos suadas, o coração a bater mais rápido, o choro… Embora algumas sejam sensações desagradáveis, a intensidade com que as sentimos e a forma como utilizamos a informação que elas nos transmitem é fundamental e pode determinar o bem ou o mal-estar que se sente em diversas situações.

Então, para se gerir as emoções, o segredo está em desenvolver a agilidade emocional, ou seja, a capacidade em as identificar, reconhecer e compreender nos diversos contextos da vida.

Qual é o seu papel ou função neste momento?

Esta agilidade emocional possibilita compreender melhor o nosso estado, como também permite comunicar aos outros o que se passa internamente. Porque ninguém é transparente!

Em síntese: as emoções são uma função vital do sistema nervoso para a manutenção da vida, tal como a respiração. Orientam para a sobrevivência física e emocional.

As agradáveis motivam-nos para explorar o mundo e reequilibram após experiências desagradáveis e desconfortáveis.

As desagradáveis protegem do perigo, orientam para acções e objectivos mais específicos.

Cumprem assim uma função adaptativa ao que nos envolve. São inevitáveis. Tal como se sinto frio ou calor, assim me agasalho de acordo com essa sensação e me protejo do ambiente externo.

Até aqui até faz sentido! Mas… Por vezes tornam-se problemáticas, disfuncionais e  desadaptativas… e criam conflitos. Então surge a questão: como se pode fazer a sua gestão, a regulação emocional?

Um pouco à semelhança do rádio transístor desenvolvido nos anos 50 do século XX, em que se escutava o ruído até se sintonizar a frequência. Se desistíssemos de ouvir o ruído, desligávamos no botão e não ouvíamos música! Assim, o desejável não é anular, reprimir, o que se sente como desagradável ou deixar de ter emoções, sentimentos, pensamentos “negativos”, mas desenvolver a capacidade de os regular, de forma a sermos nós que os gerimos e não eles que nos controlam a nós.

A capacidade de regular as emoções e gerir o comportamento só está totalmente desenvolvida quando somos jovens adultos. Deste modo, compreende-se que uma criança “desregulada” (que está a fazer uma birra ou a portar-se muito mal) necessita da assistência de um adulto atento e consciente do seu mundo interno de forma a disponibilizar à criança uma oportunidade de se co-regular e desenvolver a sua própria capacidade de aprender e refletir sobre o seu comportamento. Tal como acontece em outras aprendizagens de autonomia e independência, como comer, vestir, etc.

Em diversas ocasiões os adultos também necessitam de tempo e espaço para regular e calibrar as suas emoções. Pode ser conversar com alguém, distrair-se  ou aguardar pelo desenrolar da situação.

Este processo requer treino, paciência e é um processo ao longo da Vida!

Não vem instalado de origem Lol

Existem dois componentes bastante importantes que requerem a nossa atenção:  

1 – A Regulação da Experiência Emocional, ou seja, é necessário que nos permitamos aceder, entrar em contacto com o que sentimos.

Desta forma podemos dar-lhes um significado, integrando-as na visão que temos de nós próprios, na nossa vivência. Afinal somos nós que as sentimos, elas fazem parte do nosso património.

Por exemplo, se eu sinto que alguém me está a criticar, fico incomodado(a), posso ficar zangado(a) e triste!… No entanto, isto não implica necessariamente que eu tenha de reagir de uma forma dura ou inapropriada.

2 – A Expressão Emocional.

É importante processar esta informação. Pode acontecer não se estar preparado(a) para expressar o que se sente, ficar “bloqueado(a)” ou assoberbado pela intensidade e não dar aos outros a possibilidade de irem ao encontro das minhas necessidades. Quantas vezes escutou? “não disseste nada! Eu não podia adivinhar…” Ou se não controlo de todo a expressão das minhas emoções, dificilmente reparo nos sinais do outro de que não está no momento disponível e corro o risco de o sobrecarregar e afastá-lo. Ou seja, é importante prestar atenção ao “quando” verbalizar.